sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Brinquedo

Eu sou essa criatura estática, esse brinquedo de plástico
Superficial, sem a possibilidade da vontade própria
Largado no canto, de perna quebrada e pintura descascada
Escangalhado, todo torto, esquecido.
O colorido falso da minha roupa colada entregou-se à oxidação, o marrom descompensado tomou seu lugar.
Pegam-me quando querem, largam-me quando enjoam
E eu aceito tudo, com um sorriso desenhado do qual não consigo me livrar
Sou dependente da infantilidade daqueles que me tocam
Gosto quando me usam
Sinto-me um pedaço de qualquer coisa feliz nas mãos de outrem.
Mas, mesmo feliz, continuo sendo um pedaço de qualquer coisa...
... Escangalhado, todo torto, esquecido.


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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

São Paulo, 19/02/09, em algum momento da madrugada.



Entre saquês e clichês, desenhamos nossa amizade.






sábado, 14 de fevereiro de 2009

Escre(vi)vendo...


Minha relação com a escrita é estranha. Ver aquela folha de papel em branco, só esperando a minha pincelada para tomar qualquer forma, me faz sentir uma mistura de horror com vontade. Tipo um pânico passional. A insegurança de não saber exatamente o que fazer com tantas coisas a serem ditas me agoniam, a falta de palavras para expor integralmente a minha bagunça sentimental em forma de letras me é quase dilacerante... Quase, por um impulso qualquer, salto da cama e jogo a caneta longe, na desistência vitoriosa. Mas não. À isso eu digo não, à isso o meu não é consistente o suficiente para se opor à qualquer medo. A escrita é, dentre alguns outros, o lugar onde eu me encontro. O lugar onde o direito de dizer NÃO me é concedido por mim mesma sem nem pestanejar, é onde há a afirmação do divino conectado à linguagem humana...
Na escrita, sou feliz por ser amadora. Sou feliz por poder errar, sou feliz por falar sobre o que bater em meu coração, sou feliz por poder dizer não... Sou feliz por falar: "Ok, Sr. NÃO, agora o senhor pode se expressar!"


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ela, a outra e eu. (por Michelly Barros)


Uma é quase feliz porque lhe falta algo
Sua beleza está no passado incrível cheia de amores impossíveis
Ela não mede esforços para uma paixão de verão
Escreve tudo à mão e durante a madrugada, pois é quando a sua alma grita pelo vazio constante
E o que sai é só diamante
Sua risada é a mais gostosa, riso de bebê
Os seus olhos brilham pois é sorrindo que ela se mostra inteira
É com as amigas que ela não tem medo
Ela livre desse jeitoSua bagunça é a mais organizada, pois ela é terra, é virgem
Ela é um anjo, tem asas, por isso pode voar quando quiser
Sua piscina pode não ter a suave água, mas a gosma por que navega é de uma cor que brilha tanto quanto o sol refletindo no mar
A outra traz consigo a memória de todos os amores infinitos
Do primeiro ficou a saudade e a certeza de que ele seria o seu par
Do último ficou a mágoa de uma vida inteira, mas a lição de que tudo passa
Ela é feliz nas coisas simples, nas pequenas descobertas
Ela é feliz lendo Clarice
Sua casa tem a sua cara, cada canto, cada caixa, tudo no seu devido lugar
Ela é organizada
Ela vive entre o que é e o que não se pode dizer
No seu papel deixa-nos ver a menina dos olhos grandes e da alma profunda
Ela tem a humildade de quem reconhece que não se é auto-suficiente
Essa é a beleza do seu reinado de leoa
O seu sorriso é centro de todas as atenções aonde quer que ela vá
Sua boca é um chamado de beijos alheios
Sua pele branca é um chamado constante
Ela é brilhante
Já eu sou ela e também a outra
Trago a terra mas também Clarice
Sou um leão alado
Meu caminho é a correnteza das águas que passa pela pasta saborosa das dificuldades de ser na impossibilidade
Olho para uma e vejo a minha alma refletida
Olho para outra e vejo a minha coragem escondida
Eu sou a desordem organizada
Meu sol brilha porque trago a lua
E porque quando eu nasci era uma delas que no horizonte surgia
Elas vivem em mim
Quando penso nas possibilidades de encontros percebo que este já estava previsto
Vejo o sucesso dos nossos planos
E um futuro com todas as formas possíveis
Juntas
Ela, a outra e eu


Ela, a outra e eu - por Michelly Barros

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dia de Yemanjá


É quando eu me sinto livre

é quando Yemanjá dança em mim

é quando as ondas produzem a música mais bela

é quando eu sinto a liberdade fluindo em meu pulsar

é quando a lárgima doce escorre suavemente de meus olhos cheios de brilho

é quando os braços esticados querem alcançar a maior distância

e quando a alma estoura por inteira dentro do meu corpo, como se estivesse a soltar fogos

é quando eu grito, é quando sai o berro da felicidade plena do meu pulmão

é quando eu sou eu, sou completa e 'desavergonhadamente' eu

é quando me dou o prazer de existir, de ser e de estar; tudo junto ao mesmo tempo

é quando o fluxo do amor, da paixão, do tesão correm uma maratona em minhas veias

é quando eu quero, é quando eu posso, é quando eu vivo

Livre, absoluta e inteiramente livre!!!