quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

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Dente de dor

Junto à lágrima que

Escorre...

Doída, doída, coitada

Chega ao queixo sem esforço

E os dentes ali, arreganhados

Joelhos no chão

Berros no teto

A culpa e o sofrimento

Repartindo o mesmo cômodo

Parede-teto-chão

A tinta que cobre a poesia

O lado da cama agora é meio

A parte que foi parte o que fica

Mas se o que fica é o fim e é no fim que se acaba

Não se pode reparar o que partiu

Porque o que parte já não há

E o que não há já não pode se partir

O preço da moradia é o choro

Lá se vem uma outra lágrima de companhia

E mais outra, e outra...

Todas rolando na dor, juntas

Compadecendo-se entre si

A segunda vê a primeira se suicidando olho a fora

E atrás se também joga

Toda gota nasce pra morrer

E se a traição humana existe

As lágrimas sabem reparar por nós:

Elas secam na fidelidade.



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sábado, 12 de dezembro de 2009

Ela a Outra e Eu


Pois é, nosso filho nasceu!
"Ela a Outra e Eu" é escrito por mim,
e Michelly Barros ( www.parambolicalalande.blogspot.com ),
minhas amigas do peito!

O livro bateu recorde de vendas em lançamento na Livraria da Travessa, Barra Shopping!

JÁ A VENDA NA LIVRARIA DA TRAVESSA E EM NOSSO BLOG




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

z.E.u.

Em pé.

Derruba críticas

pensamentos

opiniões

Milhares deles.

Batalha de cara erguida

Joga o jogo do teatro limpo

Esparrama seu monólogo preciso

Explode na inteligência

Brota sorriso na arte

Bota gargalhada no público

Essa tua sinceridade cômica

Enche a barriga dessa gente de alegria

Enquanto eu esvazio a sua

Sou a sua piada de mal gosto

Sua cena mais trágica

Faço chorar quem faz rir

Te tiro do teu raciocínio

Te juro palavra

Te faço pássaro

E te fuzilo no céu.


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O fim.


A audácia de cravar o fim

Pôr as mãos no tempo

E arrancá-lo da sua função

De dividir o passado do presente

Levantar o sonoro NÃO

Emuralhar o beijo

Emoldurar o amor

Embrulhar o que foi

E não levar pra viagem

Secar o que fica

Afinar o que resta

Esfarelar o que sobra

Usar mãos de faca

E cravar o fim.

O fim.


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sábado, 14 de novembro de 2009

Giz Azul



O giz de cera azul desenhava as letras

E ela tentava, delicada, alinhar as linhas

Na parede não-uniforme

Do apartamento não-retilíneo

E a dificuldade se estendia a cada abaixada

E a cada agachada, um equilíbrio

E a cada traço, uma palavra

E no rodapé, um suor...

Ao término, orgulho

Leu a nova estampa do corredor

Letras pra quem passasse passageiro

Poesia pra quem parasse, passageiro

Ousou, escreveu, criou

Olhou, leu, reparou

Entendeu.

Que corredor era aquele?

Onde teria escrito tanto amor?

Com qual permissão?

Pichadora amadora

Escrevendo escondida

No apartamento do vizinho.


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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Abraço de estrada



Cinza céu azul cor de leite

Asfalto brancocinzaazul

Fim de tarde sem lilás

Nublando em sintonia

Opostos no mesmo tom

Uma pintura que se move

De um Picasso triste

Contagiando a estrada

Com alguma doença

Azul não-sadio

Azul como eu.


Deitei no asfalto

Achando que era o céu.


Cinco minutos de atraso

De algum controlador de luz

E com os postes apagados

Eu pude assistir enfim

Céu e asfalto fazendo amor.


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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As Três Fases Do Amor

1ª FASE: SONETO DA FIDELIDADE, VINICIUS DE MORAES

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



2ª FASE: SOZINHO, DE CAETANO VELOSO

Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você, mais ninguém

Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela de repente me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?



3ª FASE:

http://www.youtube.com/watch?v=EWC_B1u0hBE

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Grande Truque

O pássaro sai da cartola, bate no teto e cai. É uma mágica de má qualidade. Tenta se fazer de memorável, faz esforço pra isso. O truque chega a ser vitorioso, e pode ter esse título por um longo tempo, mas se mata sozinho. Se mostra feio, cheio de erros, como um espetáculo teatral no qual a atriz principal não decorou as falas, ou como em uma cena no cinema em que o refletor fica vasando. É a falta de continuidade seca. Começa na promessa da doçura e na leveza das palavras, mas cai na realidade como um pesado avião que se esburracha na pista de pouso. A descoberta do truque é a paixão estatelada. Morta.

O truque só dá um truque. É que as vezes a gente esquece disso.

Truque:

Artmanha, manha, manobra, peça,

falsidade, mentira,

iludir, manipular, engano, astuto,

apresentação falsa, deturpação, exposição falsa, informação errónea,

confundir, desencaminhar, enganar, ludibriar, pregar uma partida, trair, vigarizar

(...)

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Hoje a criança chorou baixinho
com culpa e vergonha
de pedir o colo da mãe...

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Mar


"O Mar é sempre soberano. Qualquer um que mora à beira sabe disso. Qualquer um que mora à beira do abismo. O sal e a água que se espalham lentamente por todos os cantos e poros e frestas corroem, enferrujam e empestam invisível e silenciosamente, pela terra e pelo ar. Tudo é dominado, com o tempo, pelo cheiro, de modo que até os seres que moram à beira-mar demonstram em suas peles , em suas marcas, a vida marítima que eles não podem negar."

"O Prédio, o Tédio e o Menino Cego", de Santiago Nazarian


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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vozes. Gargalhadas. Amigos. Cerveja. Garçon. Mesa. Bar. Gole. Cerveja. Gole. Cerveja. Olhos. Respiração. Boca. Bochecha. Olá.
Ela. Gole. Cerveja. Ela. Fala. Fala. Riso. Gargalhada. Mão. Toque. Cabelo. Pescoço. Ela. Olhos. Olhos. Levanta. Calçada.
Ele. Ela. Só. Andar. Andar. Andar. Silêncio. Perto. Mão. Cabelo. Perto. Pescoço. Nuca. Boca. Nuca. Bochecha. Boca. Boca. Língua. Peito. Ar.
Abraço. Língua. Língua. Mão. Mais. Peito. Mais. Corpo. Mais. Calor. Mais. Poros. Mais. Mais. Mais.
Carro. Quarto. Cama. Ela. Ele. Ela. Ela. Ela. Perto. Corpo. Língua. Mão. Dente. Dedo. Aperta. Esfrega. Sente. Ela. Mais. Mais.
Mais. Enfia. Mela. Geme. Gruda. Calor. Sua. Suor. Sua. Ela. Sua. Vai. Vem. Vai. Vem. Vem. Vem. Vem. Grito. Gemido. Suspiro.
Cansaço. Sol. Cor. Céu. Dia. Carro. Portaria. Tchau...

... Porque 'eu te amo' não se diz com uma palavra.


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sábado, 8 de agosto de 2009

Brasileiro




Acordo cedo para trabalhar
E chego cedo todo dia lá
Não falto nunca
Que é pra não deixar
Os homens terem do que reclamar


Um dia desses chego do setor
Que sempre tem algum veneno pra jogar
Jogou na cara do supervisor
Que o patrão falou
Que tá sem grana pra pagar

Vai lá
Se quiser falar com ele vai lá
Vai lá
Vai cobrar o seu dinheiro vai lá
Vai lá
É nessa grana que eu vou

O português me disse que não deu
Que a prefeitura ainda não depositou
Agora lá em casa como é que vai ser
Botei o meu moleque pra fazer judô

O japonês disse que lá não tem
Filosofia zen se não tiver dim dim
O senhorio não quer nem saber
Quer levar o dele quando o mês chegar ao fim

Quer dim dim
Quer dim dim
Quer dim dim
Dom dom

Ai dim dim
Que falta que me faz
Eu corro tanto atrás
E você nunca vem pra mim

Ai dom dom
Segura mais um mês
Que agora eu vou dançar
Um samba rock que é bom

Samba Rock - Seu Jorge


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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Futuro do Pretérito


Meu dia-a-dia adia o que há dias eu quero dissolver. E essa agonia se eu pudesse eu vendia ou rasgava ou escondia numa sala vazia. A trancaria e fingiria que dela eu me esquecia e que lá já não mais existia o desvio que me desvia. E ela, aborrecida, desmentiria e diria mentiras, só pra sair de lá. Mas eu, convencida e decidida, me distrairia com a minha ousadia, encheria de ar o peito que antes ardia e saberia que da vida e de tudo que eu já vi, só falta a ida.




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domingo, 12 de julho de 2009

Estado de Espírito

Cortando as figuras
Cortando o nó na garganta
Cortando as linhas dos limites
Cortando as pedras, contrariando o jogo
Cortando a pele fina
Cortando a saliva seca que esmaga
Cortando os vínculos
Cortando os cabelos
Cortando os olhos e os laços
Cortando, recortando, cortando de novo...

... Agora alguém me ensina a colar?



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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pela estrada...


A LETRA MAIS IMPORTANTE

"O menino uruguaio Joaquín de Souza está aprendendo a ler e pratica com os cartazes que vê. Ele acredita que a letra P é a mais importante, pois tudo começa com ela:

Proibido entrar
Proibido fumar
Proibido cuspir
Proibido estacionar
Proibido colar cartazes
Proibido jogar lixo
Proibido acender fogo
Proibido fazer ruído
Proibido..."

O Teatro do Bem e do Mal, de Eduardo Galeano.


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sábado, 20 de junho de 2009

Por São Paulo e sua arte...







Já no Rio de Janeiro, enquanto a arte nas ruas se manifesta tímida e restrita, os outdoors, busdoors ou qualquer coisa doors, fazem a festa.


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sábado, 13 de junho de 2009

Algo sobre manhãs e bombons

ELA - Não entendo o que acontece.
ELE - Tambem não.
ELA - Mas não é tão difícil entender.
ELE - É e não é...
ELA - Basta se esforçar um pouco e você vai saber me explicar.
ELE - Não sei se saberei.
ELA - Saberá, claro que saberá. Diga.
ELE - Bom...
ELA - O quê?
ELE - O quê o quê?
ELA - O que é bom?
ELE - Vai deixar eu continuar?
ELA - Fala logo.
ELE - Bom...
ELA - Mas você vai me dizer o que é bom, né?
ELE - Puta merda, tinha me esquecido como você é chata à vezes.
ELA - EU sou chata?!?! Ah, é?! Então quer dizer que agora EU sou chata... Você me chama aqui, em pleno dia dos namorados, 11 horas da noite, pra falar na minha cara que eu sou chata?
ELE - Não, não foi bem isso...
ELA - Também tinha me esquecido como você é grosso.
ELE - Pára! Deixa de ser exagerada! Vai deixar eu falar o porquê de você estar aqui ou não?
ELA - Tô me sentindo uma palhaça.
ELE - Então se sinta, mas apenas ouça.
ELA - PÁRA ! Deixa de ser grosso!! Não acha que já sofri demais com suas grosserias?!
ELE - Caralho, deixa eu falar!
ELA - Fala logo que eu quero ir embora. Meu tempo não é mais seu.
ELE - Então... é... é sobre isso que eu queria falar... É que, na verdade, hoje é dia dos namorados, né? E eu pensei, assim... em talvez... não sei, seria só uma idéia mesmo... Bom... já que nós estamos sozinhos, né... sei lá, pensei que seria legal se nós nos fizéssemos companhia... Não acha?
ELA - (tempo) É isso?
ELE - É.
ELA - Aonde é a cozinha?
ELE - Ahn?
ELA - Aonde é a cozinha??
ELE - Pra que você quer saber disso agora?
ELA - Pra pegar uma faca e te matar.
ELE - Que isso! To falando na boa!
ELA - (se acalma) Então, quer dizer que eu sou a resolução dos seus problemas!
ELE - Como assim?
ELA - Vamos lá: estava aqui você, sozinho, solitário, no dia dos namorados, precisando dar uma gozada, quando, de repente, lembrou-se de que existe uma ex-namorada, e que por sinal está sozinha também. Olha só que beleza! A isca perfeita pra uma trepada! Aí, resolveu ligar pra ela e ela, boazinha como sempre, pegou o carro às 11 da noite e, correndo perigo no Rio de Janeiro, veio até aqui, só pra ouvir o que você tem a dizer. Mas, que bela surpresa, caros amigos! Na verdade, essa pobre mulher se despencou de copacabana à tijuca, apenas queria ser comida por ele!
ELE - Não é nada disso...
ELA - E então, decepcionada, arrasada, ou qualquer outro adjetivo que mostre o quão "pedaço de qualquer coisa" ela está se sentindo, vira-se para a direita e vai embora decidida, pra nunca mais voltar. ( e vai saindo)
ELE - Calma! Calma!! Não vai embora assim! (pega-a pelo braço)
ELA - Me larga. Você não tem mais nada pra falar comigo.
ELE - Tenho sim.
ELA - Eu não quero ouvir, dane-se o que for!
ELE - Eu te amo.
Silêncio por um tempo. ELA chora.
ELE - Caralho, Eduarda! Eu só te chamei aqui porque queria você ao meu lado, será que você não percebe isso? Por que é que você tem que entender justamente o contrário?? Por que é que você sempre entende o contrário?? (pausa) Sabe por quê você tá aqui, Eduarda, sabe? Você tá aqui porque sinto sua falta. Você tá aqui porque não sei viver sem você! Esse tempo sozinho me deixou tão mal... Quero nossa casa de volta, nosso cantinho, nossas gargalhadas, nossos beijos... Quero ter filhos com você!! Quero!! Eu sempre disse que eu não queria, eu sei, mas esse tempo me fez ter outra opnião! Esse tempo me fez querer ter uma família, uma vida de um homem casado... e a mãe dos meus filhos, Eduarda, na minha imaginação, só podia ser você! Só você! Eu te amo tanto... Não sei mais respirar sem tua lembrança. Quando vou à praia, lembro de você... quando vou ao shopping, lembro de você...quando vou ao cinema, lembro de você... quando como comida mexicana lembro de você... Não sei viver com tua ausência! Por favor, Eduarda, me entenda... Te quero tanto ao meu lado, pra sempre... Te amo... Te amo...
Tempo.
ELA - Meu nome não é Eduarda. (bate a porta)





FIM.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Do It




Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta2x

Se sujou, cai fora
Se da pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora2x

Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite

Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance2x

Se tá puto, quebre
Tá feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre2x

Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure2x

Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele

Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
Quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
E não se submeta2x


do it - lenine

sábado, 9 de maio de 2009

Os maiores absurdos do mundo

SECA REVELA LIXO ACUMULADO NAS CATARATAS DE FOZ DO IGUAÇU

http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/05/07/seca-revela-lixo-acumulado-nas-cataratas-de-foz-do-iguacu-755737565.asp




SOBE PARA 106 O NÚMERO DE MUNICÍPIOS EM EMERGÊNCIA POR CAUSA DA SECA EM SANTA CATARINA

(No Rio Grande do Sul, são 192 municípios em situação de emergência)

http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/05/08/sobe-para-106-numero-de-municipios-em-emergencia-por-causa-da-seca-em-santa-catarina-755772553.asp



RIO NEGRO SOBE 3 CENTÍMETROS E COMEÇA A ATINGIR CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS; CRIANÇAS SE AFOGAM NAS ÁGUAS DO RIO AMAZONAS

http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/05/08/rio-negro-sobe-3-centimetros-por-dia-comeca-atingir-centro-historico-de-manaus-criancas-se-afogam-nas-aguas-do-rio-amazonas-755767984.asp



EM WASHINGTON, O MESMO BLA BLA BLÁ DE SEMPRE - REVISTA ONLINE GREENPEACE

Washington, EUA — Maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo perdem a chance de salvar o clima do planeta mais uma vez. Fórum das Grandes Economias do Mundo sobre a Energia e o Clima, promovido pelo presidente Obama em Washington terminou hoje com muita retórica, mas sem ações concretas.

Para o Greenpeace, o encontro que reuniu as 17 nações mais poluentes do mundo para discutir o futuro da política climática do planeta foi uma perda de tempo. Embora não esteja formalmente ligado às negociações da ONU sobre o clima, o Fórum era considerado pela administração Obama como um meio de acelerar e facilitar o processo de elaboração do documento que sucederá o Protocolo de Quioto. Esse novo acordo deverá ser finalizado no final deste ano em Copenhagen, na Dinamarca.

“A falta de liderança das maiores economias, sejam elas dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento colocam em risco a nossa capacidade de responder aos desafios das mudanças climática e atender as expectativas daqueles que já vivem seus impactos. Temos apenas alguns meses até a reunião de Copenhagen, os líderes mundiais da Europa, Estados Unidos, Brasil China e Índia têm que passar do discurso para a ação”, afirma Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace.

Nessa discussão, cabe ao Brasil: zerar o desmatamento até 2015, aumentar o percentual de geração de energia por fontes renováveis e proteger os oceanos por meio da criação áreas marinhas protegidas. O Brasil precisa agir com coerência. “Não adianta anunciar um plano de mundanças climáticas e impressionar a comunidade internacional, com a promessa de salvar a Floresta Amazônica e, logo depois, aprovar a construção da rodovia BR 319, na Amazônia, ou atender ao pleito de ruralistas radicias apoiando a mudança do código florestal”, completa Furtado.
Ontem (27/4), primeiro dia da reunião, ativistas do Greenpeace penduraram banner pressionando os 17 países participantes a fecharem um acordo climático justo e sólido, se quisermos salvar o planeta.

http://www.greenpeace.org/brasil/greenpeace-brasil-clima/noticias/chegou-a-hora-dos-maiores-polu

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Seca no sul, enchente no Norte, lixo até nas Cataratas de Foz do Iguaçu. E, em Washignton, o mesmo bla bla blá.

Que vergonha...


SEM MAIS.

sábado, 2 de maio de 2009

Decisão

Ela bufou. Fechou os olhos e respirou a escuridão funda. Não aguentava mais o som do ronco dele, era o barulho mais irritante que já escutara. A cada dia ficava pior. O estardalhaço inconsciente dele arravanha os ouvidos dela e a inundava de impaciência. 5 anos aguentando a mesma coisa; o mesmo beijo, o mesmo jeito, a mesma cama, a mesma chatisse... Sentiu vontade de gritar. Uma lágrima caiu. Teria que se separar dele? Será que essa seria a única solução? Sentiu um aperto no peito. João acima de tudo era um homem bom, ela sabia disso. Ele era atencioso, paciente, correto - até demais - , educado, carinhoso... A família dela inteira gostava dele. Seu avô fazia questão de lembrá-la que futuro pai como ele, não haveria de ter. Depois de viver a infância chorando as indiferenças de seu pai, ela tinha se prometido que daria uma paternidade decente à sua próxima geração. E é isso que faria.
Mudou de idéia.
Não havia cabimento se separar de João, e nem tempo para a separação. O mais importante era seu filho, que ainda nem tinha chegado e nem estava pra vir, mas que um dia estaria entre nós e isso era o mais importante. Ponto.
Virou de lado, tentando esquecer o barulho que vinha da boca dele. Procurou a calma em vários carneirinhos e cerquinhas, mudou a posição dos braços, colocou o travesseiro na orelha de cima; tudo em vão. João não calava a boca, e Mariana não conseguia dormir. Sentiu vontade de acordá-lo só para mandá-lo pr'aquele lugar. "Não, não, não perca as estribeiras, Mariana", pensou. "Seu filho, que ainda nem chegou e nem está pra vir, mas que um dia estará entre nós precisará de um pai bom, é isso que importa". Tentou relaxar... lembrou que bom pai ele seria... sentiu-se mais calma. Bom. Agora tudo estava tranquilo, a não ser o barulho do ronco de João... Esse barulho... Esse mesmo barulho de 5 anos... "essa mesma boca de 5 anos... boca que sai barulho, boca que eu toco, boca que eu beijo, boca que pronuncia o meu nome, boca que ronca..." Mariana se sentiu enojada. Boca que ronca é demais. Virou para o lado procurando esquecer a expressão que tinha lhe vindo à cabeça e sentiu, naquele momento, exatamente naquele momento, o CHEIRO do ronco. Chega. Era totalmente necessário fugir dali. Pensou no filho. Mas, afinal, que filho? Deciciu não sofrer por algo que ainda nem tinha acontecido. Abriu sua mala, enfiou algumas roupas dentro. Colocou a primeira roupa que viu à sua frente, pegou a carteira, verificou dinheiro, cartão, cheque. Abriu a porta. Parou. Voltou, pegou um pedaço de papel qualquer que tinha em cima da escrivaninhae uma caneta do bob esponja. Acendeu o abajour e pôs-se a escrever:
"Não disperdice tempo; não tente entender. Fui embora e não penso em voltar, nem pra pegar o resto das roupas. Cuida bem da Lolô, não esquece
que ela come três vezes ao dia a ração que está em cima da geladeira. Se não quiser ficar com ela, tudo bem, mas não me procure para me devolvê-la.
Não me procure em hipótese alguma. Desulpe por isto... Mas acho que já era a hora. Fique em paz."
Colocou o bilhete num lugar à vista, apagou o abajour e bateu a porta.

Uma semana depois, descobriu que estava grávida.


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sábado, 4 de abril de 2009

Manual da Popstar

Beba água. Faça drenagem linfática. Compre todas as revistas de moda. Ande na moda. Seja magra. Não durma tarde. Não acorde tarde. Não beba cerveja. Não beba nada. Beba água. Demore mais tempo numa clínica de estética do que lendo um livro. Malhe. Corra. Coma alface no almoço. Coma alface na janta. Não coma, mais fácil. Passe fome. Gaste teu suor no teu trabalho e, depois disso, gaste o que você ganha em cremes pra celulite. Lembre-se que aquele da Avon não adianta, tem que ser o La Belle Celulité Control All life Beauty da La Roche Posay. Use perfume 212, Carolina Herera. Não pague mico, não cometa deslizes. Não caia na rua. Compre BOA FORMA todo mês e pratique todos os exercícios que ela manda. Pra olheira, chá de camomila. Pra acelerar o metabolismo, chá verde, chá branco, chá, chá, chá, beba chá, emagrece. Emagreça. Silicone é importante. Silicone no peito, na bunda, na boca. Perdeu 5kg? Perca mais uns 5. Perdeu 10? Perca mais uns 3... Perdeu 13? Agora só mais uns 2. Pule corda. Faça abdominal. Hidrolipo, última moda. Faça! Hidrolipo tira todas as gordurinhas e você sairá linda na foto. Sorria. Tá puta? Sorria. Tá chorando? Sorria. Quer morrer? Sorria. Tá afim de xingar o mundo? Sorria! Sorria, querida. Você não vai querer sair mal na foto, vai? Deixe de ir ao teatro, vá ao evento que tua assessora mandou ivocê ir. Não fique sem graça se ela mandar o fotógrafo tirar foto sua, é o trabalho dela e você precisa aparecer. Apreça! Tire foto com BBB's. Converse com quem tem que conversar, puxe saco do diretor, você precisa daquele papel. Esqueça poesia, você não vai usar isso. Não durma com maquiagem. Cuide da pele, você já tem 20 anos. Tome colágeno em cápsulas. Já foi ao ortomolecular? Faça a unha da mão. Unha do pé também, e não deixe a sola grossa, pelo amor de Deus, você é uma mulher e não um garoto. Ande pelo Leblon. Leblon é chique e tem paparazzi. Limpe a pele. Tonifique a pele. Hidrate a pele. Nos cílios, passe óleo. Para a esfoliação, bata 2 colheres de fubá, 2 de aveia e 2 de trigo em 4 copos d'água. Faça massagem com óleo e use meio litro de soro fisiológico, 5 gotas de ginseng, 2 gotas de própolis e 5 cenouras batidas na centrífuga. Para cravos, passe sabonete se argila duas vezes por semana. Para pele oleosa, use sabonete neutrogena Deep Cleaning. Faça clareamento. À laser, por favor. Não esqueça de que chocolate, barzinho com amigos até tarde, beijar homens desconhecidos, bebidas alcóolicas, pizzas, batata ruffles, sorvete ou qualquer coisa que tenha gordura maior do que 0% é expressamente proibido. Não esqueça da cenoura.

Esqueça de viver.


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A Luz e a Escuridão

"Para Sabina, viver significa ver. A visão é limitada por uma dupla fronteira: a luz intensa que cega e a escuridão total. Talvez seja daí que vem sua repugnância por todo extremismo. Os extremos delimitam a fronteira para além da qual a vida termina, e a paixão pelo extremismo, em arte como em política, é um desejo de morte disfarçado."

A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera.


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terça-feira, 24 de março de 2009

Irmã da Terra

Resolveu enfiar os dedos na terra. Colocou unha por unha, dedo por dedo, até encaixar naquele marrom molhado e fofo os dois pés inteiros. Sensação... Sensação... Resolveu enfiar mais. Sentou-se e aos poucos o solo úmido foi grudando em sua pele que jazia nua no jardim. Sentiu o gelado de baixo combinar com o nublado do céu e com as gotículas que caíam e se agarravam em suas pestanas. Calafrio. Sensação... Deitou-se. Mergulhou no barro, fantasiou-se com o caldo da natureza, esfregou cada parte do seu corpo e sentiu prazer em tocar até na ponta de seu nariz. A nuca beijava a terra; ela era sua amante, sua delícia cremosa... Olhou para o céu e a neblina densa que existia imprensava-a e fazia força contra seu peito num interminável abraço forte. Sensação, muita sensação... Gemeu. Delirou febril imersa ao barro, entre gozo e dor, na falta de respiração e no êxtase...Fez de si irmã da terra, do real, e, depois desse dia, ela desapareceu.

sábado, 21 de março de 2009

Montauk

"por detrás da cortina que eu ainda
não instalei você vai abrir a porta
que ainda falta construir vai passar
por um corredor que um dia ainda
há de haver e dizer coisas lindas

que eu não vou ouvir."




"A Partir de Amanhã eu Juro que a Vida Vai Ser Agora", de Gregorio Duvivier.

A História das Coisas

A História das Coisas

http://video.google.com/videoplay?docid=-7568664880564855303

Uma boa dose de realidade pro ser humano.

Assista!

domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher



Poema para todas as mulheres




"No teu branco seio eu choro.

Minhas lágrimas descem pelo teu ventre

E se embebedam do perfume do teu sexo.

Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado

Confuso, criança para te conter!

Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!

Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!

Homem sou belo

Macho sou forte, poeta sou altíssimo

E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.

Ai! Teus cabelos recendem à flor da murta

Melhor seria morrer ou ver-te morta

E nunca, nunca poder te tocar!

Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços

Anjo, sinto o calor do vento nas espumas

Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...

Correi, correi, ó lágrimas saudosas

Afogai-me, tirai-me deste tempo

Levai-me para o campo das estrelas

Entregai-me depressa à lua cheia

Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me

o cântico dos cânticos

Que eu não posso mais, ai!

Que esta mulher me devora!

Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa

Senhora!"



Vinicius de Morais




A MULHER MADURA
(Afonso Romano de Santana)

"O rosto da mulher madura entrou na moldura dos meus olhos.
De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de um joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.
Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites do seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe.
O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.
A adolescente,com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas.
E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições já se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência, uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos,apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.
Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.
Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente.
Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.
Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.
A mulher madura está pronta para algo definitivo.
Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e das crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.A mulher madura é um ser luminoso, é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.
Sobretudo o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar."

sábado, 7 de março de 2009

Em algum lugar do Nordeste...



Pode aproximar
Pode reagir
Pode admitir
Ou nem perceber
Quando ela chegar, vai doer no olhar
Vai modificar a luz dessa noite

Se eu olho pro sol é pra cegar o juízo
Também não tem como fechar o olho pra você
Veio na madrugada
É só um pouco disso tudo que eu preciso

Se eu olho pro sol é pra cegar o juízo
Enquanto o gelo derrete a água ta subindo
O chão, sacudindo
A gente tem juízo, mas não usa!

Tem Juízo Mas Não Usa - Lula Queiroga




sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Brinquedo

Eu sou essa criatura estática, esse brinquedo de plástico
Superficial, sem a possibilidade da vontade própria
Largado no canto, de perna quebrada e pintura descascada
Escangalhado, todo torto, esquecido.
O colorido falso da minha roupa colada entregou-se à oxidação, o marrom descompensado tomou seu lugar.
Pegam-me quando querem, largam-me quando enjoam
E eu aceito tudo, com um sorriso desenhado do qual não consigo me livrar
Sou dependente da infantilidade daqueles que me tocam
Gosto quando me usam
Sinto-me um pedaço de qualquer coisa feliz nas mãos de outrem.
Mas, mesmo feliz, continuo sendo um pedaço de qualquer coisa...
... Escangalhado, todo torto, esquecido.


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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

São Paulo, 19/02/09, em algum momento da madrugada.



Entre saquês e clichês, desenhamos nossa amizade.






sábado, 14 de fevereiro de 2009

Escre(vi)vendo...


Minha relação com a escrita é estranha. Ver aquela folha de papel em branco, só esperando a minha pincelada para tomar qualquer forma, me faz sentir uma mistura de horror com vontade. Tipo um pânico passional. A insegurança de não saber exatamente o que fazer com tantas coisas a serem ditas me agoniam, a falta de palavras para expor integralmente a minha bagunça sentimental em forma de letras me é quase dilacerante... Quase, por um impulso qualquer, salto da cama e jogo a caneta longe, na desistência vitoriosa. Mas não. À isso eu digo não, à isso o meu não é consistente o suficiente para se opor à qualquer medo. A escrita é, dentre alguns outros, o lugar onde eu me encontro. O lugar onde o direito de dizer NÃO me é concedido por mim mesma sem nem pestanejar, é onde há a afirmação do divino conectado à linguagem humana...
Na escrita, sou feliz por ser amadora. Sou feliz por poder errar, sou feliz por falar sobre o que bater em meu coração, sou feliz por poder dizer não... Sou feliz por falar: "Ok, Sr. NÃO, agora o senhor pode se expressar!"


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ela, a outra e eu. (por Michelly Barros)


Uma é quase feliz porque lhe falta algo
Sua beleza está no passado incrível cheia de amores impossíveis
Ela não mede esforços para uma paixão de verão
Escreve tudo à mão e durante a madrugada, pois é quando a sua alma grita pelo vazio constante
E o que sai é só diamante
Sua risada é a mais gostosa, riso de bebê
Os seus olhos brilham pois é sorrindo que ela se mostra inteira
É com as amigas que ela não tem medo
Ela livre desse jeitoSua bagunça é a mais organizada, pois ela é terra, é virgem
Ela é um anjo, tem asas, por isso pode voar quando quiser
Sua piscina pode não ter a suave água, mas a gosma por que navega é de uma cor que brilha tanto quanto o sol refletindo no mar
A outra traz consigo a memória de todos os amores infinitos
Do primeiro ficou a saudade e a certeza de que ele seria o seu par
Do último ficou a mágoa de uma vida inteira, mas a lição de que tudo passa
Ela é feliz nas coisas simples, nas pequenas descobertas
Ela é feliz lendo Clarice
Sua casa tem a sua cara, cada canto, cada caixa, tudo no seu devido lugar
Ela é organizada
Ela vive entre o que é e o que não se pode dizer
No seu papel deixa-nos ver a menina dos olhos grandes e da alma profunda
Ela tem a humildade de quem reconhece que não se é auto-suficiente
Essa é a beleza do seu reinado de leoa
O seu sorriso é centro de todas as atenções aonde quer que ela vá
Sua boca é um chamado de beijos alheios
Sua pele branca é um chamado constante
Ela é brilhante
Já eu sou ela e também a outra
Trago a terra mas também Clarice
Sou um leão alado
Meu caminho é a correnteza das águas que passa pela pasta saborosa das dificuldades de ser na impossibilidade
Olho para uma e vejo a minha alma refletida
Olho para outra e vejo a minha coragem escondida
Eu sou a desordem organizada
Meu sol brilha porque trago a lua
E porque quando eu nasci era uma delas que no horizonte surgia
Elas vivem em mim
Quando penso nas possibilidades de encontros percebo que este já estava previsto
Vejo o sucesso dos nossos planos
E um futuro com todas as formas possíveis
Juntas
Ela, a outra e eu


Ela, a outra e eu - por Michelly Barros

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dia de Yemanjá


É quando eu me sinto livre

é quando Yemanjá dança em mim

é quando as ondas produzem a música mais bela

é quando eu sinto a liberdade fluindo em meu pulsar

é quando a lárgima doce escorre suavemente de meus olhos cheios de brilho

é quando os braços esticados querem alcançar a maior distância

e quando a alma estoura por inteira dentro do meu corpo, como se estivesse a soltar fogos

é quando eu grito, é quando sai o berro da felicidade plena do meu pulmão

é quando eu sou eu, sou completa e 'desavergonhadamente' eu

é quando me dou o prazer de existir, de ser e de estar; tudo junto ao mesmo tempo

é quando o fluxo do amor, da paixão, do tesão correm uma maratona em minhas veias

é quando eu quero, é quando eu posso, é quando eu vivo

Livre, absoluta e inteiramente livre!!!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ele e Ela




Ele gostava dela não por causa de sua flor no cabelo, mas sim pelo jeito que ela a encaixava em seus fios dourados, remexendo-os das raízes às pontas, fazendo-os brilhar o reflexo do sol. Ele gostava de seus olhos pequeninos que, quando riam, suas bochechas os faziam apertadinhos e quase desapareciam na foto. Ele gostava dos pêlos de cada parte do corpo da menina, de pegar a mão dela escondido por debaixo da mesa em um almoço de família, de beijá-la atrás da árvore do quintal de sua avó materna, de levá-la ao cemitério para brincar de ter medo. Ele gostava do colar que ela usava, um meio dourado com pingente de sua inicial. O passatempo preferido do menino era escrever à lápis uns versinhos para a amada, apagar com a borracha e depois escrever tudo de novo, mas de um jeito diferente. Nenhuma escrita estava à altura da menina, ele achava. O cheiro de fim de ano, os presentes enchendo a árvore de natal, o peru ficando pronto no forno, e ele só pensava nela... "Cadê?", perguntava-se. "Cadê ela? Por que demora tanto?". Foi quando Marilda, a galinha de estimação, cacarejou de felicidade lá fora, e aí ele entendeu: Ela chegara! Seu coração pulou. A presença dela causava sempre um furor, de modo que a ardência da paixão dilacerava-o delicada e deliciosamente, com todo amor possível. A porta de madeira foi aberta e lá estava ela, som sua fita no cabelo, seu vestido quadriculado azul-claro, seus olhos apertados e sua boca rosinha... Linda! Linda!




Os anos se passaram. O namoro de portão deu lugar ao noivado, que deu lugar ao casamento, que deu lugar aos filhos, que deu lugar ao cotidiano, à responsabilidade, ao comodismo, ao desânimo, à falta de surpresa, ao já conhecido... Ela não usava mais flor no cabelo. E, se ainda usava, ele não tinha reparado. Os fios dourados não eram mais tão brilhantes, os olhos apertados já eram mais do que conhecidos e o colar com o pingente era, na verdade, um tanto quanto brega. Ele cansou de escrever os versinhos à lápis, achou aquilo perda de tempo demais. Começou a escrever à caneta, de modo que não precisasse mais reescrever tudo, porque aquilo era coisa de criança, e de modo que o tempo foi passando e... "aonde eu tinha guardado o caderninho mesmo?", pensou. Sentiu preguiça de procurar. Deixou pra lá.


Ela pintou o cabelo de preto, começou a usar calça jeans e salto. Esqueceu que existia pôr-do-sol, porque agora usava a memória para se lembrar do horário da mamadeira e da reunião do dia seguinte. Ela teve três filhos. Conheceu a celulite, engordou, emagreceu, engordou, emagreceu, engordou, engordou, fez lipoaspiração.


"Bom dia", "Boa noite"; era tudo o que conversavam.


Ela perdeu o pingente, o colar arrebentou. Ele deu graças à Deus quando isso aconteceu, porque era cafona demais. Os vestidinhos todos foram sumindo, eles acham que doaram há anos atrás pra uma instituição de crianças carentes, mas não se lembram bem. O caderninho? "Acho que a empregada jogou fora", ele respondeu, sem coragem de perguntá-la à que caderninho ela estava se referindo.


Tudo se perdeu. Os sorrisos, os jeitos, os pequenos gestos, o brilho, a leveza, o frescor, o coração acelerado, a respiração ofegante, o nervosismo dos primeiros beijos inseguros... A alma se perdeu. "Tudo bem", ele pensou. "Eram apenas bobagens."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Entre folhas secas


Perambulo pelo bosque de folhas secas mortas marrons sob um céu cinzento e uma chuva quente
Minhas costas suadas minha cara pintada minha boca melada dá risada do que eu não sei
Minha língua de cortes secos do gosto amargo pardo que a solidão tem me dado
Gruda e cola áspera no céu da boca - que de céu não tem nada-
E roça na dor do incômodo e na falta do salivar de cachorro
Meus peitos pontudos que minha postura faz olhar para o chão são já melancólicos
E a dor precoce da menina mulher me é furacão e me arranca as raízes dos sentidos
Entre pedregulhos pontudos e pés ando como quem cambaleia ao vento
Meu batom vermelho sangue borrado e meus olhos escorridos de vazos dilatados
Formam nas águas da natureza e da dor um elo harmonioso e belo de cor
Meus cabelos longos molhados batem pesados no meu pescoço cor de leite
E o calor abafado do chão me sobe pelas pernas fracas e sem rumo
Me dispo por inteira com meu rosto em direção às nuvens ou à qualquer coisa que possa cair do divino - se é que por ser divino pode-se cair -
E entrego meu corpo minha nudez minha alma e algum resquício de lucidez
À esta luz forte branca que existe lá em cima e que apesar de me cegar por completo
É chamada de paraíso.