segunda-feira, 6 de junho de 2011

há quase vinte anos

Meu corpo que sobre rugas se desdobra padece em desesperança, sou indiferente à mim; isto que me sobra... ainda pareço mulher?, se não sou tocada tampouco acariciada como tal?, assumo que costumava receber este homem em meu sexo somente por cumprir tal papel, mas nem isso mais; o tempo nos desaprendeu; não mais nos sabemos enquanto afirmamos pirracentos todas as diferenças. Torcemos teimosamente contra nós mesmos há quase vinte anos, mas não arredamos o pé. Ando cansada demais e assim vou me esgueirando pelos cantos desta casa, com uma falta de tudo enraizada no fundo, tenho uma vontade perdida de me achar dando as mãos ao medo de me encontrar escangalhada demais, a velhice vem todos os dias me avisar que está próxima – vejo isto em você também, o descuidado é tanto; nos desperdiçamos meticulosamente como dois mestres, estamos apegados ao estrago que viramos, a fadiga é tamanha que neste mundo sem valorização o progresso é uma piada infeliz, que desgraça; duas almas encolhidas de medo. Meus pulmões costumavam ser estufados de imediato para supostas controvérsias, porém nem isto me excita os órgãos, você não me comove, e isto também não me entristece mais. Parasitamo-nos e descompreendemos o amor de dentro, somos lindamente desvirginados pela desventura; tudo por pura escolha...