quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Somos contraditórios. Nossos contagiosos relacionamentos alastram nossos traumas num jogo de ação e reação que come seu próprio rabo. Mas há a santidade em nós. Curamos uns aos outros, às vezes só por existência. O sentimento - essa coisa inexplicável que acontece dentro da gente - nasce, vive e se procria, imaculado. Acho que a verdade é que a gente respira pra manter a loucura do sentir no mundo; todas essas sensações infinitas e não sistemáticas incansáveis. O resto é apretecho pra complementar a alçada do que se sente. Somos o mais belo paradoxo da natureza, e nele consiste o desenvolvimento. É no trauma que está a salvação.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Labiata
que se faziam mar, pra cima
sobre as palmas e a melodia
que me entranhavam a alma
e fluía a minha verdade
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Um fim de novembro
A culpa cresceu.
A culpa cresce com o tempo.
domingo, 8 de agosto de 2010
Um desabafo niteroiense
Eu, rubra e quadriculada, voltei à origem com fome de afeto
Comprei presente, me vesti, cruzei a ponte
Fui pelas ruas com uma intimidade perdida
A cidade tinha encolhido. Ou fui eu que cresci?
Tudo minúsculo, um incômodo esquisito
Que eu não queria sentir. Não queria.
Cruzei com nomes, imagens, rostos
Todos moradores da memória
Eu voltei ao berço da amizade com fome de sorriso
Mas dei de cara com gargalhada
Fui tocada por braços fracos,
Desenlaçada.
Quanta solidão de uma vez só no meio daquela gente...
Daquela gente tão gente, tão minha, tão desmoronada
Afetada e desafetuosa
Eu nunca quis largá-los, nunca
Nunca fora abandono
Mas jogo fora como uma criança que mastiga seu chiclete até o fim...
Cuspi.
Parei de chorar. Agora desapego de propósito.
Vomitei a parte fedorenta da alma
Desculpem-me os bons que ficam;
Dei um chute no passado.
-
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Cena
- Já te expliquei o que aconteceu.
- Não, aquilo não tem explicação.
- A cafeteria é pública.
- Desta aqui você já deveria ter sido expulso.
- Pra isso existe os dez por cento.
- Você é ridículo.
- Faltou o insuportável. Ridículo e insuportável.
Silêncio.
- Tem visitado ele?
- Sim.
- E como ele está?
- Bem.
- Tem perguntado por mim?
- Nunca.
- E os outros?
- Acharam.
- Acharam?!?!
- U-hum.
- Meu Deus...
Silêncio.
- Foi tudo pro brejo então...
- Foi... mas não tente enganar a gente.
- Enganar?
- É. Estou cansada de você fazer isso. Daquela vez foi a mesma coisa.
- Não, não. Aquela vez foi diferente. Aquela situação era outra!
- Que situação? Hein? Que situação?
- Não dependia só de mim...
- Ah! Entendo. Ele está assim porque “não dependia só de você”...
- É!
- É. E quem vai pagar o prejuízo?
- Eu posso tentar com o cara que eu conheci...
- Pelo amor de Deus! Você ainda não entendeu que esse prejuízo é impagável?!
- Pára de me encher de culpa. Os outros também não ajudaram!
- Porque não era função dos outros fazer isso.
- Ah sim, era atrapalhar tudo.
- Como fizeram! E você melhorou a situação com sua lábia.
- Você está falando besteira.
- Besteira?!?! Besteira é o que foi descoberto depois!
O homem fica em silêncio.
- Você acha que nós não pesquisamos, depois de tudo?
- Pesquisaram o quê?
- Nos lugares que você deixou rastro, a gente foi atrás... colhemos informação por informação. Cada peça do quebra-cabeça era um passo à frente. Nos dedicamos muito...
- Que pena, tanto esforço pra nada.
- Se eu fosse você não diria isso...
- Garçom!
- ... quando você deixou ele lá, você sabia o que ia acontecer... você fez de propósito! Tudo aquilo de propósito!
- Garçom!
- Você é um monstro!
- A conta!
- Ele vive agora desse jeito, e você sente o quê? Hein? Está feliz? Está contente?
O homem vai saindo.
- Isso, escapa! Escapa aqui, porque quando você estiver lá, eles vão atrás de você! E você ta fudido! Entendeu? Fudido!!
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Na valsa tonta da infância
Em mim, cordas sem concordância
Prisioneiro da reprise
Ser louise, alcoolize-se
Ate-me ao t{ato}. Finalize!
Ass{ass}inei fino cont{r}ato
Fraquejando aos m{in}úsculos
Miúdo como o mundo
Entornei, entornei, entortei...
Fim de valsa e de lambança
Em nós, aborto no final da festa
Liberteiro democráta
Juliana não se engana
Até que a vida em si for chamas
Contrato mal humorado
Reicindido em gargalhadas
Estapiei seu miúdo mundo
E tornei a me entornar
desta vez, da boca pra dentro.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Sara
que saltita
numa Copacabana preto e branca
com cabelos enrolados de Gilda
vive os 18 anos dos anos 40
o pezinho no volante
a sombra da chuva no corpo
mão na mão
ai que flor no estômago!
a vejo num óculos de gatinho
minha Sara, minha querida
te viver é ter poder atemporal
danço um jazz arrumando nosso quarto
Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Benny Goodman
e me visto pra você, menina
uso nossa saia rosa
fumo alguns cigarros contigo
você me leva na candura
meu doce, meu frescor
tua virgindade é minha também
ai dele que a tira
e atira pra qualquer lado
mas disso já não posso te proteger
está escrito, Sarinha
é teu destino
posso estar contigo
dou meu corpo por você
prometo te encaixar em mim
assim você nunca morre
nem quando o corte se fizer
nem quando eu virar cinzas
porque tua história
pequena só pra quem vê
é cravada em filme, meu bem
e filmes são assim; eternos
então, ficamos combinadas
tu me emprestas o passado
que eu te carrego pro sem fim.
-
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Esperando o que
Esperando o que não tem, tendo o que não vem, bagunçando a fronha num desmaio sem sono.
-
terça-feira, 25 de maio de 2010
17 anos de casamento
olhou o horizonte
da parede pálida
enxugou o rosto
algumas rugas de dor
res{pira}.
vejo suas costas
subindo
descendo
prende
o
ar...
solta
o
ar...
lenta.
tenta.
pensa
nesse amor que nunca foi
mas que sempre está
está
e estraga
e fica e fica e fica e fica
como poda!
como pode?
quase duas décadas
de vácuo entre sexos
num espaço desencaixado
duas carnes sem nenhuma unha
uma flor e uma cerveja
um tecido e um grito
uma árvore e um bar
essa falta de vontade um do outro
é o abandono a si próprio
falta de suor à dois
embaixo do mesmo ventilador
ventilando a dor que sente
vem tirando tudo
{menos a roupa}
ela não ousa
dar adeus
e à deus dá
sua vida
avalia e inválida se vê
sem via
nem ida
ela arruma a casa
ele chega à noite
se acomoda
com todo o corpo
e fica e fica e fica e fica
vivendo no sofá
em frente à TV tudo se esquece
e se repete
futebol e carne aos domingos
então, tudo certo
ele bebe, ela limpa
e se promete acabar com tudo
mas amanhece e esquece
chora,
mas permanece.
sábado, 22 de maio de 2010
Ficamos combinados
Pode ir também, meu bem
Pode ir também
E quando a breguisse não cantar mais alto
Pode ir também, querido
Pode ir também
E quando o pelo não subir no beijo
Quando o olho não quiser mais,
E o repetido ficar repetido demais
E os dias de chuva não sugerirem à nós o que sugerem aos casais
E à dois não sermos ridículos
E despidos não termos mais vícios
E quando o altar já não significar o eterno
E o pra sempre for sempre pra depois
E ao olhar na janela o sol já se pôs
Já era, já foi
Então você vai embora, meu amor
Você vai e eu vou
Encontrar outro ardor
Assim mesmo, sem temor
Não é porque a vida é curta não
É porque sem isso eu não sei quem sou...
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Pra você, branca de neve.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Alice
De barriga de fora
E gira sem forma
Como um frango de padaria
Uma artista ou um produto
Que se enrola numa faixa
E se entrega cheio de graça
Aos bares, festas e casas
Quem é essa que foge
Que por não se jogar da janela
Se joga fora
Ela se leva embora
Palidamente em branco
Sem estampa
Se tampa
Quem são essas duas olheiras
Que por ela não olham
Essas unhas, esses cabelos
Esses dentes
Que olham, pedem, exigem
Pidões!
E essa ela que não é?
E morre de medo do que pode ser?
Quem sou essa que não sabe?
Que discurso é esse que sou?
De onde surgiu tanta palavra?
O que faço com o não que dou?
O sonho já se embolou com tantos sonhos
Que tem dúvidas de que sonho é (ou são!).
-
terça-feira, 11 de maio de 2010
Essa minha mania
É que eu tenho essa mania de correr do tempo. Fugir das buzinas da cidade e das altas velocidades que me lembram que a vida passa. Corro dos movimentos e dos espelhos. Quero a vargem grande, a quase paralisada bicicletinha da esquina, o burro de carga que anda pronto só pra um descanso. Escolho a parte que respira, a que não se sente passada pra trás, porque só caminha. De costas pra tv, faço o favor de mentir pra mim mesma; assim não me sufoco. Ao passo que finjo que nada acontece lá fora, tudo pode acontecer aqui dentro. Então desenvolvo no silêncio e no escuro, onde a referência é só palavra.
-
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Sobre a catástrofe no Rio de Janeiro

Ok, amigos, eu sei que já estamos todos por demais entristecidos com essa tragédia que acontece no Rio de Janeiro... Mas eu gostaria de fazer alguns comentários. Primeiramente, me pergunto por que o homem, desde quando se deu sua existência, precisa esperar segurar o tranco da consequência de algo errado pra depois perceber que tal coisa não andava bem. Me pergunto, por exemplo: será que ninguém previu que os filtro solares iriam conter uma substância a qual poderia prejudicar os corais? Ou que ninguém percebeu que tal combinação química, quando em contato com o ar, poderia afetar a camada de ozônio? E que a poluição causaria revolta na natureza? Será que ninguém se deu conta que aquelas casas nas encostas, feitas de maneira tão precária, estavam prestes a cair a qualquer vendaval??? Entendemos que o que aconteceu não foi uma chuva qualquer, foi uma tragédia, mas até que ponto deixamos tudo rolar nas mãos de quem não confiamos? Prefeitos, governadores, presidentes.... cada um jogando a responsabilidade pra onde lhe for mais conveniente. Não adianta, a esse altura do campeonato, questionar e culpar as autoridades. Estas casas estavam com risco de cair há anos, o erro estava ali pra quem quisesse parar e ver. Por que ninguém o fez? É complicado pausar o dia-a-dia pra prestar atenção em problemas que não lhe pertencem... E quando acontece uma catástrofe, todo mundo adora encher a boca e falar que é culpa de alguém. Adoram ter em quem colocar a culpa. Tão relaxante. Que alívio.
segunda-feira, 22 de março de 2010
No gargalo bebo o breu
Nesse eu que não sai de mim
Vai, enfim, loucura
Injúria sem cura
Doçura em fúria
Procura deserta, tristeza
Memória obesa e esperta
Pesa, pula, inquieta, fura
Faz do tombo, rombo
Arroubo de inquietação
Prisão, roubo como acusação
Causa e culpa procuram conclusão
Assassinaram o segredo
Enredo assinado pelo medo
Coroada em erro do topo do muro
Esmigalhada caio em chão duro
No escuro pela mão me retiro
E me reviro, então, em puro
Pó.